O olhar criativo e proativo do professor traz resultados significativos na sala de aula e nas quadras também. Os projetos apresentados pelos educadores durante a 14ª Mostra de Educação Física 2022 permitem essa conclusão. O evento ocorreu nesta terça-feira (8), no Auditório Jornalista Roberto Marinho, no Bairro Mirim, e reuniu mais de 400 pessoas divididas nos períodos da manhã e da tarde.
O encontro foi organizado pela Coordenadoria de Esporte e Complementação Educacional da Secretaria de Educação (Seduc). Ao todo, foram apresentados 18 projetos desenvolvidos por professores de educação física que atuam nas escolas de Educação Infantil e Ensino Fundamental da rede municipal de ensino. A cada iniciativa exibida, os educadores buscaram compartilhar com os demais colegas as boas práticas adotadas.
Foi o caso do professor Roberto Carlos da Costa Belini que apresentou o projeto Roundnet para Todos, desenvolvido com alunos da Escola de Complementação Sonia Marise Domingues, situada no Bairro Vila Sônia. O educador conheceu a prática esportiva no 1º Horário de Trabalho Individual Coletivo (HTPC) noturno promovido pela Coordenadoria no meio do ano.
Ao ter primeiro contato com a modalidade viu a possibilidade de levar para a escola. Por não ter o equipamento adequado que seria o set (espécie de mini cama elástica de tela) precisou adaptar e usou o bambolê como base para a prática. Passou as regras e a forma de jogar para os alunos que logo adotaram o esporte. A inserção da novidade resultou no 1º Festival de Roundnet, envolvendo as dez escolas de Complementação Educacional.
Na EM Sonia Marise, a chegada do esporte fez a diferença na vida de uma das alunas. “Todos adotaram a modalidade, mas para esta foi especial. Por algum motivo as demais crianças não gostavam de brincar com ela. Durante o Festival, interagiam entre si e essa jovem ficava de lado. Por ironia do destino, ela foi vencedora da competição. Os demais colegas agora só querem ficar perto dela. Virou a popular da escola”, exemplificou.
Para o professor Belini, o educador precisa estar atento as possibilidades e saber tirar o melhor resultado de cada aluno. “Eu não imaginava que teria esse fechamento. Quando propus a prática do esporte é porque achei divertida, diferente e hoje eles pedem para jogar Roundnet. Tive a oportunidade de fazer a diferença na vida dessa aluna. Que a gente tenha esse olhar. Seja de um, dois ou três estudantes. Mas entregue o seu melhor”.
Picadeiro – O olhar diferenciado não ficou apenas na prática do Roundnet. Duas professores viram a possibilidade de trazer o circo para as aulas de educação física. Foi o que fizeram as docentes Letícia Cristina Alves e Uliciane Leite Torquato Braz. Elas lecionam respectivamente nas escolas Natale de Lucca, localizada no Bairro Quietude, e Hilda de Carvalho Guedes, no Samambaia.
Leticia Alves apresentou o projeto nomeado Conhecendo o Circo que desenvolve com alunos do Infantil I e II da unidade. Ela inseriu as técnicas circenses com as crianças por meio de jogo da memória. A cada par encontrado durante a brincadeira ela explicava quem era aquele personagem e o que ele fazia. Uma vez contextualizada a temática com os estudantes, a educadora seguiu para a parte prática.
Entre as ações promovidas, a docente realizou atividade de equilibrista ao conduzir os alunos no slackline e ao longo do banco. Outra prática circense trabalhada foi o de andar em cima da perna de pau. Para representar, as crianças subiam em duas latas, amarradas por barbante, e se locomoviam pelo pátio. O tecido acrobático, preso na árvore, também fez parte dos ensinamentos das modalidades artísticas do circo.
Enquanto Leticia Alves levou o circo para a EM Natale de Lucca, a professora Uliciane Torquato trabalhou a temática com os alunos da EM Hilda Guedes. Para levar o conteúdo às crianças por meio do projeto “Desafiando Através de Atividades Circenses e Jogos Indígenas”. Neste, a educadora trouxe além da prática circense, a cultura indígena com foco nos costumes esportivos dessa civilização.
Exemplo – Quem também participou da 14ª edição da Mostra foi o professor de educação física Gilberto Correia Palacius Moyano, que atua na EM Thereza Magri. O docente trouxe o projeto “Aulas Adaptadas com o Professor Deficiente Visual” para compartilhar com os colegas. O educador teve a companhia do seu fiel escudeiro Carlos Alberto dos Santos que o acompanha durante as aulas.
Moyano ingressou como professor na rede municipal de ensino esse ano. Deficiente visual, o educador abordou como foi a sua chegada na escola e as adaptações que ele e a unidade de ensino tiveram de fazer. O docente leciona para alunos do 4º e 5º ano e também explicou como foi a aceitação das crianças. Oriundo das artes marciais, onde ensinou jiu-jitsu por cerca de 20 anos, ele traz muitas técnicas da luta para a rotina de aula.
Além de apresentar o seu projeto, o professor de educação física acompanhou a participação dos demais colegas nos dois períodos. Para auxiliá-lo a entender ainda mais o que os docentes mostravam, a Secretaria de Educação ofereceu o serviço de áudio-descrição. Para isso, contou com a contribuição da assistente técnico pedagógico (ATP) de Inclusão, Lara Arenghi, que narrou passo a passo tudo que era compartilhado.
Evidências – Essa foi a primeira edição da Mostra de Educação Física de forma presencial após o período mais crítico vivido por conta da pandemia. Nos últimos dois anos, a ação aconteceu de forma virtual. O responsável pela Coordenadoria de Esporte e Complementação Educacional, André Luís da Costa Marques, destacou a qualidade dos trabalhos apresentados durante a deste ano.
“Vi no semblante e na expectativa dos professores o desejo da retomada da Mostra de forma presencial. Até porque, este evento, além de trazer reflexão e inspirar outros professores, ele serviu também para aproximar as pessoas”, destacou Marques. “Um corpo experimentado é um corpo vivido. O fato de esses profissionais estarem envolvidos com as concepções do movimento faz com que tenham característica diferenciada e isso foi demonstrado em cada projeto”.
A secretária de Educação, a professora Cida Cubilia, também fez questão de prestigiar as apresentações. Para a titular da pasta municipal, o evento evidenciou a capacidade do docente a se adaptar as adversidades e oferecer um trabalho de qualidade. “Como professores somos lapidados a sermos diferentes das demais profissões. Com certeza foi uma tarde de troca, com todos saindo com mais bagagem do que chegaram aqui”.
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