Dia do Idoso: nem todos têm motivos para comemorar

Abandono familiar é realidade entre a maioria dos asilados no Lar São Francisco

Por Luciano Agemiro | 3/10/2016

A expectativa de vida dos brasileiros no ano 2000 era de 70 anos e atualmente já vivemos em média 75. A notícia, que pode ser boa para alguns, tem peso diferente para quem não é amparado pelos familiares. Essa realidade pode ser constatada no Lar São Francisco de Assis, em Praia Grande. O abrigo municipal tem cerca de 60 idosos, inclusive uma moradora com mais de 100 anos. Na maioria dos casos, filhos, netos, outros familiares e parentes passam anos sem visitar os velhinhos. Às vezes, quando aparecem, já é tarde demais.

No último sábado, dia 1 de outubro, foi comemorado o Dia Mundial do Idoso. É considerado idoso quem já passou dos 60 anos. Nesta faixa etária é comum ter filhos adultos, netos e outros vínculos familiares. Mas esta faixa etária também pode trazer limitações. Problemas de locomoção, de fala, sequelas de alguma doença. Isso pode atrapalhar o convívio entre o idoso e seus familiares.

Muitas vezes, o asilo é uma saída tida como solução para algumas famílias, modo de acabar com o problema. Em média, só 10% dos moradores recebem visitas constantemente, cerca de metade dos 60 abrigados são visitados uma única vez por ano e o restante, raramente ou nunca. Isso os deixa aborrecidos e às vezes até revoltados.

Um exemplo dessa realidade é C.S.R, de 81 anos. Cadeirante, tem prótese em uma das pernas e há mais de 3 anos não recebe visitas de familiares. Sabe-se que era mãe de 4 filhos e que também tinha netos.

O idoso O.B.R, também cadeirante, tem 77 anos, reclama que nunca recebeu visitas de parentes. Outra história que impressiona é a da moradora Marcelina Pequi, que tem 104 anos. Desde que foi deixada no abrigo, segundo o Lar, nenhum familiar jamais apareceu. A mesma situação atinge M.F.G, de 62 anos, e muitos outros abrigados do Lar.

Histórias – O abrigo municipal guarda mais de 4 mil anos de histórias. São relatos de vida de seus moradores que podem servir de exemplos para qualquer um. Trabalhadores das mais diversas profissões, pessoas que conquistaram grandes objetivos, mas que hoje foram esquecidos. Os sobrinhos, netos e filhos sempre são personagens dessas histórias, mas alguns se confortam na mistura de fantasia com realidade.

A Dona Mafalda Daguano adora poesias e é capaz de criar versos de improviso que vão alegrar os visitantes. A “fadinha”, como gosta de ser chamada, tem 79 anos e ainda espera um príncipe encantado para viver um lindo amor.

Seu Otacílio Candido de Almeida, de 72 anos, tinha uma banca de jornal na Cidade. Conheceu muita gente, viu Praia Grande crescer e ainda hoje lembra, em detalhes, da rotina do comércio.

Carinho – Apesar da realidade individual dos moradores, o Lar São Francisco não se caracteriza como um lugar triste. A unidade atende às necessidades dos idosos com todo o respeito que merecem. São cinco refeições diárias, cuidados médicos, higiene e conforto para os moradores.

O mais importante é que, além de toda questão estrutural, o carinho com os atendidos está entre as principais característica dos serviços prestados na unidade. Mensalmente, há a festa dos aniversariantes. Além de eventos, brincadeiras e outras atrações para diverti-los.

A ausência de familiares no abrigo é amenizada com as visitas de voluntários, cuja presença altera a rotina do Lar. São pessoas comuns, que vão dar um pouco de atenção individual. Grupos de dança ou escolas também fazem apresentações para os atendidos. Outras ações de destaques são as dos voluntários que cortam os cabelos dos moradores, pintam as unhas das mulheres, levam roupas e outros objetos.

Visitas - Qualquer pessoa, com um pouco de boa vontade e tempo, pode ajudar esses idosos a suprirem a falta de convívio familiar. O Lar São Francisco recebe visitas todos os dias, inclusive aos finais de semana. Para agendar uma visita, basta ligar para 3494-2694.